terça-feira, 14 de dezembro de 2010

1989

Com muitas mãos agarrando pedras, escavando a terra para sepultar os trechos e as passagens dos caminhos até aqui. Após vinte e dois anos, atingimos o auge de nossas loucuras, estar no topo é estar em perigo, esta foi a paranóia pregada nas salas e nos corredores institucionais da vida. Somos as criaturas vis que ousam matar o próprio criador, com desculpas para cada lacuna nos argumentos, caçando e pilhando até a poeira da estrada.
A herança que herdamos permanece intacta, mirrada e bem escondida nos arbustos incongruentes da mata-virgem. O corte da faca. As intenções afiadas. Os livros cativos onde as informações queremos ocultar. É uma palavra ingênua contra um insulto deslavado, é uma pequena mácula frente a toda malícia cultivada a partir de obscenidades irrelatadas. A obra-prima de gerações e maturações, somos filhos mimados e filhos anônimos, vestimos a carapuça feita sob medida por décadas de antecipação e expectativas patéticas: o homem que foi à Lua, o homem que criou o tempo, o homem que reinventou o homem. Quisemos crescer para tornarmo-nos piores, fazer jus a essas audácias que são aperitivos para os ímpetos desenfreados, outorgar-nos deuses a nossa imagem e semelhança, mas com os anos, as figuras serão apenas as caricaturas das dissimulações mais sinceras e das paixões mais caídas que encontrarmos para enfeitar a casa. Faz tempo, o espantalho foi desmascarado e a gentileza deixou o barco de vez.
Não somos fáceis, e sabemos dançar num pé só, na corda esticada sobre o desfiladeiro.

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