sábado, 16 de outubro de 2010

as fatias e as migalhas

Um fato absurdo que perambula as esquinas da realidade: 4% da população devora os outros 96%. Ainda pior, o 1% mais rico da sociedade abocanha mais de 50% do planeta. Mastiga e digere a renda, os recursos naturais, os privilégios da lei e direitos a eles outorgados exclusivamente, a educação (cada vez mais restrita a quem não pode pagar pelo valor de face), a saúde pública (apenas o coveiro está garantido, ou nem isso), o trabalho justo (este caso o Walmart tem como mister), a moradia, a liberdade em todas suas facetas - indiscriminadamente, alimenta-se dos direitos, cada vez mais básicos, das pessoas que mal tem a chance de reivindicá-los como seus.
E insistimos que tudo não se passa de uma democracia mal interpretada, é sim, uma democracia às avessas. O governo do povo tornou-se a política das portas-fechadas, do monopólio de informação, de poder de decisão acima do voto, dos resgates omissos sobre a colheita de impostos e de pagamentos enviados para a aposentadoria que não tarda, mas a dignidade tarda, dos esquemas truncados para recolhimento de verbas não endereçadas previamente; além da completa falta de impunidade que solapa a ética que os senhores destes mecanismos democráticos mesmo pregam, mas é uma teia tão bem costurada, todos prendem-se a ela, no entanto, as moscas não se soltam. O que estamos presenciando é alguma espécie de oferenda ritualística, e não fomos convidados para a festa, aliás, são claramente nossas cabeças postas à mesa, nos salões das grandes corporações, servidas ao molho chutney e com um vinho de Maipo safra 98. Belíssima combinação, afinal - só me preocupa o sutil descabimento desta história, tão sutil quanto uma tropa de cavalos num concerto de Vivaldi.

Um comentário:

  1. É um belo cuspe! Se todos (sinceramente) vissem a política atual como você vê, quem sabe as mudaças fossem mais rápidas...

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